terça-feira, 28 de julho de 2020

Condor e Cronópio

Um condor cai como um raio em cima de um cronópio que está passeando por Tinogasta, encurrala-o contra uma parede de granito e lhe diz com grande petulância o seguinte:
Condor —Atreva-se a afirmar que eu não sou bonito.
Cronópio — O senhor é o pássaro mais bonito que eu já vi.
Condor — Mais ainda.
Cronópio — O senhor é mais belo do que a ave-do-paraíso.
Condor — Atreva-se a dizer que eu não voo alto.
Cronópio — O senhor voa a alturas vertiginosas e é inteiramente supersônico e estratosférico.
Condor — Atreva-se dizer que eu cheiro mal.
Cronópio — O senhor cheira melhor do que um litro inteiro de água-de-colônia Jean-Marie Farina.
Condor — Sujeito de merda. Não me deixa nem uma chance para eu lhe dar uma bicada.
Julio Cortázar, in Histórias de Cronópios e de Famas

Nenhum comentário:

Postar um comentário