Descobriu-se
na Oceania, mais precisamente na ilha de Ossevaolep, um povo
primitivo, que anda de cabeça para baixo e tem vida organizada.
É
aparentemente um povo feliz, de cabeça muito sólida e mãos
reforçadas. Vendo tudo ao contrário, não perde tempo, entretanto,
em refutar a visão normal do mundo. E o que eles dizem com os pés
dá a impressão de serem coisas aladas, cheias de sabedoria.
Uma
comissão de cientistas europeus e americanos estuda a linguagem
desses homens e mulheres, não tendo chegado ainda a conclusões
publicáveis. Alguns professores tentaram imitar esses nativos e
foram recolhidos ao hospital da ilha. Os cabecentes-para-baixo, como
foram denominados à falta de melhor classificação, têm vida longa
e desconhecem a gripe e a depressão.
Carlos
Drummond de Andrade, in Contos plausíveis
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