Não
haverá razão para viver, nem termo para as nossas misérias, se for
mister temer tudo quanto seja temível. Neste ponto, põe em ação a
tua prudência; mercê da animosidade de espírito, repele inclusive
o temor que te acomete de cara descoberta. Pelo menos, combate uma
fraqueza com outra: tempera o receio com a esperança. Por certo que
possa ser qualquer um dos riscos que tememos, é ainda mais certo que
os nossos temores se apazíguam, quando as nossas esperanças nos
enganam.
Estabelece
equilíbrio, pois, entre a esperança e o temor; sempre que houver
completa incerteza, inclina a balança em teu favor: crê no que te
agrada. Mesmo que o temor reúna maior número de sufrágios,
inclina-a sempre para o lado da esperança; deixa de afligir o
coração, e figura-te, sem cessar, que a maior parte dos mortais,
sem ser afetada, sem se ver seriamente ameaçada por mal algum, vive
em permanente e confusa agitação. É que nenhum conserva o governo
de si mesmo: deixa-se levar pelos impulsos, e não mantém o seu
temor dentro de limites razoáveis. Nenhum diz:
– Autoridade
vã, espírito vão: ou inventou, ou lho contaram.
Flutuamos
ao mínimo sopro. De circunstâncias duvidosas, fazemos certezas que
nos aterrorizam. Como a justa medida não é do nosso feitio,
instantaneamente uma inquietude se converte em medo.
Sêneca,
in Dos Reveses
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