sexta-feira, 17 de abril de 2020

Alegrias

As alegrias chegam de forma inesperada. Eu tive duas. Uma delas foi uma coisa que uma professora me contou. Um inspetor visitava a sua escola. Entrou numa sala de aulas e viu trabalhos das crianças relativos a alguns dos livros infantis que escrevi. Para testá-las, ele perguntou: “Quem é Rubem Alves?”. Um menininho respondeu: “É um homem que gosta de ipês-amarelos”. Fiquei comovido. Foi a mais bela e concisa descrição de mim mesmo que já tive. A outra veio-me por outra professora. Entregou nas minhas mãos alguns volumes. “São livros seus”, ela explicou. Livros meus? Mas não havia nada escrito no papel imaculadamente branco. É que aqueles livros não eram para serem lidos com os olhos. São para serem lidos com a ponta dos dedos. Braille. Que alegria saber que os cegos me lerão! Nunca imaginei…
Rubem Alves, in Ostra feliz não faz pérola

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