As
alegrias chegam de forma inesperada. Eu tive duas. Uma delas foi uma
coisa que uma professora me contou. Um inspetor visitava a sua
escola. Entrou numa sala de aulas e viu trabalhos das crianças
relativos a alguns dos livros infantis que escrevi. Para testá-las,
ele perguntou: “Quem é Rubem Alves?”. Um menininho respondeu: “É
um homem que gosta de ipês-amarelos”. Fiquei comovido. Foi a mais
bela e concisa descrição de mim mesmo que já tive. A outra veio-me
por outra professora. Entregou nas minhas mãos alguns volumes. “São
livros seus”, ela explicou. Livros meus? Mas não havia nada
escrito no papel imaculadamente branco. É que aqueles livros não
eram para serem lidos com os olhos. São para serem lidos com a ponta
dos dedos. Braille. Que alegria saber que os cegos me lerão! Nunca
imaginei…
Rubem
Alves, in Ostra feliz não faz pérola
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