O
osso do chão
se
espinhou pelos céus,
rasgando
a nuvem.
Nem
assim irá chover.
E
ainda bem:
a
paisagem é tão magra
que
uma única gota
causaria
total inundação.
Neste
deserto,
de
que tudo desertou,
apenas
a cabra silhuesce.
Em
planetária ruminação
toma
por folha
toda
a esquelética planura.
Não
lhe dói
a
indigestão do vazio:
a
pedra é menos dura que a fome.
A
poesia da cabra
apenas
na insaciável pança se concebe.
E
a cabra se parece
com
gente de voraz ganância.
Dos
caprinos aprenderam:
em
qualquer nada,
inventam
os mais vastos pastos.
Mia
Couto
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