Aconteceu
em Uberaba. Disseram-me que antes da minha fala haveria um coro de
crianças surdas que cantaria o hino nacional. Desacreditei. Crianças
surdas não cantam. Aí entraram as crianças no palco. Um menininho
de não mais de quatro anos de idade olhava espantado para aquele
mundaréu de pessoas, todo mundo olhando para ele! Entrou a regente e
fez-se silêncio. Silêncio para nós, porque para os surdos é
sempre silêncio. Iniciou-se o hino nacional. Os acordes
introdutórios. A regente levantou os braços... e eles cantaram o
hino nacional com gestos! Cantaram com as mãos, os braços, os
olhos, o rosto, o corpo inteiro! A voz calada, o corpo cantando!
Ouvimos a música que mora no silêncio. Terminado o hino, todas as
crianças se abriram num enorme sorriso e correram a abraçar a
regente. E, aí, cantaram para mim a “Serra da Boa Esperança”.
Por vezes não é possível não chorar…
Rubem
Alves, in Ostra feliz não faz pérola
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