Espalhou-se
no bairro a notícia de que Ludovico, ao partir o pão quando
jantava, teria exclamado:
— Este
é realmente o pão que o Diabo amassou.
O
padeiro Romualdo sentiu-se ofendido em sua honra profissional e foi
pedir satisfação. Ludovico não só confirmou o que dissera como
aduziu:
— É
também o Diabo que fabrica a sua farinha, Romualdo. Fique alerta e
verá.
O
padeiro não dormiu aquela noite. De madrugada, pé ante pé, entrou
na padaria e surpreendeu um estranho ser que retirava os pães do
forno, fazendo-os desaparecer e substituindo-os por outros que eram
amassados na hora, feitos de uma farinha especial, com vago cheiro de
enxofre.
Petrificado
de espanto, Romualdo nada pôde fazer. Mesmo porque logo em seguida
caiu duro no chão, onde foi encontrado ao amanhecer, e pouco a pouco
recuperou a consciência.
Seu
primeiro gesto foi pedir um pão e cheirá-lo. Cheirava natural, mas
o padeiro não ousou prová-lo. Fechou o estabelecimento e sumiu no
mundo.
Ludovico
arrematou as instalações e passou a ser o padeiro do bairro, sem
problemas.
Carlos
Drummond de Andrade, in Contos plausíveis
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