Na
véspera do dilúvio,
onde
outros levaram posses,
eu
apenas levei a palavra.
Amealhei
letra por letra
como
quem carrega tábua
para
fazer ponte, barco, arca sem Noé.
E
quando os céus desmoronaram
só
em mim as águas desabaram.
Na
minha jangada
brotaram
fontes,
jorraram
rios,
remoinharam
oceanos.
Lá
fora,
reinava
a secura dos desertos.
Apenas
na minha arca
se
esbanjavam águas.
Então,
entendi:
onde
pensara palavra
não
havia senão nascentes.
Semente
de toda a semente,
em
palavra desaguei,
para
sempre rio em busca de uma outra margem.
Mia
Couto
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