E enquanto viver
Também depois, na luz
Ou num vazio fundo
Perguntarei: até quando?
Até que se desfaçam
As cordas do sentir.
Nunca até quando.
Significante, perolado, o todo dele
estendido em jade lá no fundo, assim a si mesmo se via, ele via-se,
humanoso, respirando historicidade, historiador composto, umas
risadas hôhô estufadas como aquelas antigas lustrosas gravatas,
via-se em ordem, os livros anotados, vermelho-cereja sobre os
bolcheviques, pequenas cruzes verdes verticais amarelas nas
brasilidades revolucionárias, sangue nenhum sob as palmeiras, sangue
nenhum à vista, só no cimento dos quadrados, no centro das grades,
no escuro das paredes, sangue em segredo, ah disso ele sabia, mas
vivo, comprido, significante na sua austeridade era melhor calar o
sangue em segredo, depois que tinha ele a ver com isso? A ver com os
homens? homens num só ritmo, sangue sempre, ambições, as máscaras
endurecidas sobre a cara, repetia curioso, curioso meus alunos a
verdade é nil novi super terram, nada de novo, nada de novo
professor Axelrod Silva? Nada, roda sempre cuspindo a mesma água,
axial a história meus queridos, feixes duros partindo de um só
eixo, intensíssima ordem, a luz batendo nos feixes e no eixo em
diversificadas horas é que vos dá a ideia de que na história nada
se repete, oh sim tudo, tudo é um só dente, uma só carne, uma
garra grossa, um grossar indecomponível, um isso para sempre.
Escavar o que, se o seu existir, o seu de fora, a ciência dos
feitos, a dura história, grafias, todos esses acontecimentos
possuíam a qualidade soberba das perobas, perenes, ele ouvira, os
trens passarão por esses dormentes, meu filho, para sempre para
sempre. Pra onde vão os trens meu pai? Para Mahal, Tamí, para
Camirí, espaços no mapa, e depois o pai ria: também pra lugar
algum meu filho, tu podes ir e ainda que se mova o trem tu não te
moves de ti. Mover-se. Por que não? Agora em férias, no segundo
semestre falaria das revoluções, de muitas, vermelhas verdes negras
amarelas, enfoques adequados nem veementes nem solenes, enfoques
despidos de adorno, o tom de voz nem oleoso nem vivaz, um sobretom
doce–pardacento, o lenço nas lentes, tirando e pondo os óculos,
já se via no segundo semestre tirando pondo vivo comprido
significante repetindo: pois é sempre o isso meus queridos, cinco ou
seis pensamenteando, folhetos folhetins afrescos, sussurro no
casebre, na casinhola das ferramentas, no poço seco, e depois uma
nítida vivosa sangueira, e em seguida o quê? um vertical de luzes
cristalizado por um tempo, um limpar de lixões, alguns anos, e outra
vez ideias, bandeirolas, tudo da cor conforme a cor de novos cinco ou
seis.
Hilda
Hilst,
in Tu
não te moves de ti
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