domingo, 9 de fevereiro de 2020

A lamparina

Se, por um instante, você tivesse descido da refinaria do Pequod para o castelo de proa do Pequod, onde os homens que estavam de folga dormiam, teria quase acreditado que estava de pé num santuário iluminado de reis e conselheiros canonizados. Estavam deitados ali nas suas criptas triangulares de carvalho, todos os marinheiros talhados em silêncio; cerca de vinte lamparinas cintilando sobre os seus olhos fechados.
Nos navios mercantes, para o marinheiro, o óleo é mais raro do que o leite das rainhas. Vestir-se no escuro, comer no escuro e cair na cama no escuro é o costume. Mas o baleeiro, como procura o alimento da luz, também vive na luz. Transforma o seu beliche numa lâmpada de Aladim e deita-se nele; de tal modo que, na noite mais escura, o casco negro do navio sempre irradia uma claridade.
Veja com que liberdade absoluta o baleeiro pega um punhado de lamparinas – amiúde apenas garrafas e frascos velhos – e leva ao refrigerador de cobre da refinaria, para abastecê-las, como canecas de cerveja num tonel. Também queima o óleo mais puro, no seu estado mais bruto e, portanto, incorrupto; um fluido que as invenções solares, lunares e astrais da terra firme desconhecem. É tão suave quanto a manteiga de vacas no pasto em abril. Ele busca o seu óleo para ter certeza do seu frescor e da sua autenticidade, tal como o viajante no campo busca a caça para o seu jantar.
Herman Melville, in Moby Dick

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