“Naître,
vivre et mourir dans la même maison” — este belo verso, tão
obviamente doloroso para alguns, não é de Baudelaire, como me
parecia quando uma vez precisei citá-lo. Desconfio agora que é de
Sainte-Beuve. Alguns dos meus leitores velhos talvez pudessem
esclarecer-me. Isto porque os novos não leem francês. É que eles,
em consequência da última Guerra Mundial, abandonaram a luz
mediterrânea, não pelo fog londrino, mas pelos tremeluzentes
letreiros de Los Angeles. Ora, aquela simples linha de doze sílabas
métricas bastaria para conservar o nome de um poeta, como creio que,
de Mallarmé, os saturados leitores do século XXIII haverão de
guardar ao menos este verso: “La chair est triste — hélas! —
et j’ai lu tous les livres.” Pois, a continuarmos na pressa
em que vamos, os antologistas do futuro recolheriam de cada poeta
apenas algumas palavras. Que mais queres? A bom leitor, uma linha
basta.
Mário
Quintana, in A vaca e o hipogrifo
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