quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

O vestido

No armário do meu quarto escondo de
tempo e traça meu vestido estampado em fundo preto.
É de seda macia desenhada em campânulas vermelhas à ponta de longas hastes
delicadas.
Eu o quis com paixão e o vesti como um rito, meu vestido de amante.

Ficou meu cheiro nele, meu sonho, meu corpo ido.
É só tocá-lo, volatiza-se a memória guardada:
eu estou no cinema e deixo que segurem minha mão.
De tempo e traça meu vestido me guarda.
Adélia Prado

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