“Nada
nos faz acreditar mais do que o medo, a certeza de estarmos
ameaçados. Quando nos sentimos vítimas, todas as nossas ações e
crenças são legitimadas, por mais questionáveis que sejam. Os
nossos opositores, ou simplesmente os nossos vizinhos, deixam de
estar ao nosso nível e transformam-se em inimigos. Deixamos de ser
agressores para nos convertermos em defensores. A inveja, a cobiça
ou o ressentimento que nos movem ficam santificados, porque pensamos
que agimos em defesa própria. O mal, a ameaça, está sempre no
outro. O primeiro passo para acreditar apaixonadamente é o medo. O
medo de perdermos a nossa identidade, a nossa vida, a nossa condição
ou as nossas crenças. O medo é a pólvora e o ódio o rastilho. O
dogma, em última instância, é apenas um fósforo aceso.”
Carlos
Ruiz Zafón, in
O Jogo do Anjo
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