Aos nove anos de idade, ela trabalha
limpando casas em St. Louis, às margens do rio Mississippi.
Aos 10, ela começa a dançar na rua em
troca de moedas. Aos 13, ela se casa.
Aos 15, se casa novamente. Do primeiro
marido, ela não guarda nem mesmo uma lembrança ruim. Do segundo,
ela guarda o sobrenome, pois gosta de como ele soa.
Aos 17, Josephine Baker dança o
Charleston na Broadway. Aos 18, ela cruza o Atlântico e conquista
Paris. A “Vênus de Bronze” faz sua performance nua, usando nada
mais do que um cacho de bananas.
Aos 24, ela é a mulher mais fotografada
no planeta. Pablo Picasso, de joelhos, a pinta. Para parecer com ela,
as jovens donzelas pálidas de Paris esfregavam creme de nogueira,
que escurece a pele.
Aos 30, ela tem problema em alguns
hotéis, pois viaja com um chimpanzé, uma cobra, uma cabra, dois
papagaios, vários peixes, três gatos, sete cães, uma chita chamada
Chiquita, que usa um colar de diamantes, e um porquinho chamado
Albert, que ela banha em um perfume Je Reviens.
Aos 40, ela recebe a medalha de Honra da
Legião, por seus serviços à Resistência Francesa durante a
ocupação nazista.
Aos 41 e em seu quarto marido, ela adota
12 crianças de diversas cores de pele e diversas origens, que ela
chama de “minha tribo arco-íris”.
Aos 45, ela retorna aos EUA. Ele insiste
que qualquer um, brancos ou negros, se sentem juntos em seus shows.
Senão, ela não se apresentaria. Aos 57, ela divide o palco com
Martin Luther King e fala contra a discriminação racial diante de
um imenso público na Marcha a Washington.
Aos 68, ela se recupera de uma calamitosa
falência e no Teatro Bobino, em Paris, ela celebra cinquenta anos
nos palcos.
E
ela morre.
Eduardo
Galeano, in Espelhos – uma história
quase universal
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