Na
tranquilidade da contemplação, quando pesa sobre você o peso da
eternidade, quando você escuta o tic-tac de um relógio ou a batida
dos segundos, como não sentir a inutilidade da progressão no tempo
e o non-sense do vir-a-ser? Para quê ir mais longe, para quê
continuar? A revelação súbita do tempo, conferindo-lhe uma
esmagadora proeminência que não tem nada de ordinária, é o fruto
de um desgosto com a vida, com a incapacidade de continuar a conduzir
a mesma comédia. Quando esta revelação se produz de noite, o
absurdo das horas que passam dobra-se numa sensação de solidão
aniquilante, pois - à parte do mundo e dos homens - você
encontra-se só face ao tempo, numa irredutível relação de
dualidade. No seio do abandono noturno, o tempo não é mais, com
efeito, enfeitado com atos nem objetos: ele evoca um nada crescente,
um vazio em plena dilatação, comparável a uma ameaça do além. No
silêncio da contemplação ressoa então um som lúgubre e
insistente, como um gongo que dissociou existência e tempo: fugindo
da primeira, eis que ele acabou esmagado pelo segundo. E ele sente o
avanço do tempo como o avanço da morte.
Emil
Cioran, in Nos cumes do desespero
Nenhum comentário:
Postar um comentário