Aquela
atriz que faz a mãe do Seinfeld na TV, a Liz Sheridan, foi amante do
James Dean quando os dois eram jovens à procura de emprego na
Broadway. Seu apelido era “Dizzy” e ela acaba de lançar um livro
chamado Dizzy and Jimmy sobre o namoro dos dois, que durou só
até o “Jimmy” ir para Hollywood. Onde — como sabe quem tem
mais de 50 — ele fez três filmes, transformou-se numa legenda e
morreu num acidente de carro, não necessariamente nesta ordem. James
Dean foi o rebelde sem causa original, um ídolo da adolescência
incompreendida que os mais velhos, porque não compreendiam, chamavam
de juventude transviada. Cumpriu o ideal romântico de viver com
velocidade, morrer cedo e ser um cadáver bonito, que é ainda mais
atraente quando o cadáver não precisa ser o da gente. A morte
prematura também o salvou do destino de outras jovens legendas, que
acabaram fazendo pontas, como Orson Welles de pregador em Moby
Dick, ou Marlon Brando de baleia num possível remake. Ou
algum parente engraçado do Seinfeld.
Pela
resenha que li, o livro de lembranças da “Dizzy” é incomum
porque trata seu assunto com carinho e não traz nenhuma grande
revelação retardada — mesmo porque a bissexualidade de James Dean
era conhecida há tempo. Já um livro recente sobre Saul Bellow, de
James Atlas, uma biografia não autorizada mas tolerada, dá todos os
podres do autor — misoginia, homofobia, racismo, arrogância
intelectual, péssimo marido —, enfim, tudo que você tem o direito
de ser, se você é o melhor escritor da sua geração. A posteridade
não é mais um lugar seguro, e ela não está mais nem esperando
você morrer para fazer sua autópsia moral.
Luís
Fernando Veríssimo, in Banquete com os deuses
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