sábado, 21 de setembro de 2019

Revisões

Aquela atriz que faz a mãe do Seinfeld na TV, a Liz Sheridan, foi amante do James Dean quando os dois eram jovens à procura de emprego na Broadway. Seu apelido era “Dizzy” e ela acaba de lançar um livro chamado Dizzy and Jimmy sobre o namoro dos dois, que durou só até o “Jimmy” ir para Hollywood. Onde — como sabe quem tem mais de 50 — ele fez três filmes, transformou-se numa legenda e morreu num acidente de carro, não necessariamente nesta ordem. James Dean foi o rebelde sem causa original, um ídolo da adolescência incompreendida que os mais velhos, porque não compreendiam, chamavam de juventude transviada. Cumpriu o ideal romântico de viver com velocidade, morrer cedo e ser um cadáver bonito, que é ainda mais atraente quando o cadáver não precisa ser o da gente. A morte prematura também o salvou do destino de outras jovens legendas, que acabaram fazendo pontas, como Orson Welles de pregador em Moby Dick, ou Marlon Brando de baleia num possível remake. Ou algum parente engraçado do Seinfeld.
Pela resenha que li, o livro de lembranças da “Dizzy” é incomum porque trata seu assunto com carinho e não traz nenhuma grande revelação retardada — mesmo porque a bissexualidade de James Dean era conhecida há tempo. Já um livro recente sobre Saul Bellow, de James Atlas, uma biografia não autorizada mas tolerada, dá todos os podres do autor — misoginia, homofobia, racismo, arrogância intelectual, péssimo marido —, enfim, tudo que você tem o direito de ser, se você é o melhor escritor da sua geração. A posteridade não é mais um lugar seguro, e ela não está mais nem esperando você morrer para fazer sua autópsia moral.
Luís Fernando Veríssimo, in Banquete com os deuses

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