Primeiro
prenúncio de trovoada de depois de amanhã.
As
primeiras nuvens, brancas, pairam baixas no céu mortiço,
Da
trovoada de depois de amanhã?
Tenho
a certeza, mas a certeza é mentira.
Ter
certeza é não estar vendo.
Depois
de amanhã não há.
O
que há é isto: Um céu de azul, um pouco baço, umas nuvens brancas
no horizonte,
Com
um retoque de sujo embaixo como se viesse negro depois.
Isto
é o que hoje é,
E,
como hoje por enquanto é tudo, isto é tudo.
Quem
sabe se eu estarei morto depois de amanhã?
Se
eu estiver morto depois de amanhã, a trovoada de depois de amanhã
Será
outra trovoada do que seria se eu não tivesse morrido.
Bem
sei que a trovoada não cai da minha vista,
Mas
se eu não estiver no mundo.
O
mundo será diferente.
Haverá
eu a menos.
E
a trovoada cairá num mundo diferente e não será a mesma trovoada.
Alberto
Caeiro (heterônimo de Fernando Pessoa)
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