Dou
o nome de Deus ao êxtase do corpo tocado pela Beleza. Se uso a
palavra Deus é como metáfora poética: nada de conhecimento. Nada
sei sobre Deus. Deus é um significante que nada significa. Como se
fosse um poema que não pretende conter um conhecimento. Um poema não
vale pela verdade que supostamente poderia conter, mas pela beleza
que contém. Assim é, para mim, o nome Deus... Deus é o nome que
damos à ausência que habita o corpo. Quando oramos “venha o teu
Reino”, estamos invocando o retorno dos objetos amados perdidos que
moram na saudade.
Faço
meus poemas sobre o meu vazio, que é o único que experimento. Em
obediência ao mandamento sacramental de que o pão e o vinho sejam
bebidos na dor da ausência. A magia não está nem no pão nem no
vinho, presentes; mas nas palavras que dizem a tristeza da falta e a
esperança da volta. O sacramento é uma celebração da ausência de
Deus.
Os
deuses das flores são flores. Os deuses das lagartas são lagartas.
Os deuses dos cordeiros são cordeiros. Os deuses dos tigres são
tigres. Nossos deuses são nossos desejos projetados até os confins
do universo.
Rubem
Alves, in Do universo à jabuticaba
Nenhum comentário:
Postar um comentário