quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Jack, um insensato

No início de abril de 1878, no meio da pior seca jamais registrada nas colinas de Kentucky, Jackson Santee foi entregue à vida. Dezesseis duros anos depois, ignorando as advertências dos parentes de que era uma desastrosa loucura, ele partiu, com 40 anos de atraso, para a corrida do ouro na Califórnia. Enquanto os últimos pés-frios obstinados raspavam o fundo da serra, Jake tomou posse de um pequeno córrego a poucas horas de caminhada do melhor bordel de Angel’s Camp. Não chegou a encontrar um veio, mas tinha o bastante para, se fosse sensato, viver confortavelmente o resto da vida.
Nos dois anos seguintes, ele viajou, a cavalo, pela Califórnia. Sensato não era. Três casamentos – o mais longo durou sete semanas – deram profundas dentadas nas suas economias. O jogo dava para cobrir a bebida, mas a bebida lhe proporcionava visões loucas. Sempre pronto a seguir sua luz interior, Jake investiu quantias generosas em aventuras altamente especulativas, aprendendo, do jeito mais difícil, que, às vezes, quando se põe dinheiro na mesa, é tão somente para lhe dar um beijo de despedida.
Seu quarto casamento durou um dia. Polly era uma bibliotecária de San Francisco. Infelizmente, a natureza prática que ele admirava nela, e que esperava amainar sua própria intemperança, foi levada até mesmo para o quarto nupcial. Quando ela abriu um livro e começou a ler, Jake fechou negócio ali mesmo, em dinheiro vivo. Recuperou parte desse dinheiro jogando pôquer nos botecos das docas, mas a sorte logo esfriou. Ficou vagueando por algumas semanas. Daí, com menos de mil dólares que lhe sobravam no bolso, a sorte virou num jogo de apostas altas no hotel Barbary. Ganhou US$ 17 mil e a escritura de 450 hectares ao norte do rio Russian, no litoral. No dia seguinte, a cavalo, foi dar uma olhada.

Foi conquistado pela cor do rio. Tinha a mesma claridade densa da esmeralda usada por Joe Kelso, o Maluco. Era final de setembro e, onde os raios de sol penetravam na abóbada das sequoias, tocando a água, ele vislumbrou o lampejo brilhante dos salmões movendo-se rio acima para a desova. O cavalo, coberto até a barriga por samambaias douradas, cavalgou ao longo do rio até não poder mais, tomando então a direção do rio Gualala. Sua propriedade ficava ao fim da longa encosta de uma montanha, tinha os dois lados densamente cobertos por sequoias e pinheiros. Havia uma casinha com dois cômodos grandes, à sombra de uma imensa nogueira. Na tarde quieta, podia ouvir o mar, a 12 quilômetros de distância. Considerou-se em casa.
Investiu em ovelhas e por três anos obteve um lucro decente, até que uma epidemia acabou com o rebanho. Considerou a perda uma ato de Deus que apenas coincidiu com seu tédio crescente. Vendeu 50 hectares por um bom dinheiro e passou a melhor parte das três décadas seguintes viajando pelos estados do Oeste, jogando cartas. Não ficou rico, mas conseguiu se virar.
Com 61 anos de idade, casou-se pela última vez. Ela era a robusta filha de um cerealista de Sacramento, e foi a coisa mais próxima do amor a que ele chegara. Voltaram ao rancho no litoral e criaram cavalos. O casamento durou 15 meses e produziu a única criança que ele procriou. Três meses depois do nascimento de Gabriela, sua mulher fugiu com um vendedor de sapatos de Fort Bragg, levando consigo o bebê.
Jim Dodge, in Fup

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