Os
garotos da rua resolveram brincar de governo, escolheram o presidente
e pediram-lhe que governasse para o bem de todos.
— Pois
não — aceitou Martim. — Daqui por diante vocês farão meus
exercícios escolares e eu assino. Clóvis e mais dois de vocês
formarão a minha segurança. Januário será meu ministro da Fazenda
e pagará o meu lanche.
— Com
que dinheiro? — atalhou Januário.
— Cada
um de vocês contribuirá com um cruzeiro por dia para a caixinha do
governo.
— E
que é que nós lucramos com isso? — perguntaram em coro.
— Lucram
a certeza de que têm um bom presidente. Eu separo as brigas,
distribuo tarefas, trato de igual para igual com os professores.
Vocês obedecem, democraticamente.
— Assim
não vale. O presidente deve ser nosso servidor, ou pelo menos saber
que todos somos iguais a ele. Queremos vantagens.
— Eu
sou o presidente e não posso ser igual a vocês, que são
presididos. Se exigirem coisas de mim, serão multados e perderão o
direito de participar da minha comitiva nas festas. Pensam que ser
presidente é moleza? Já estou sentindo como este cargo é cheio de
espinhos.
Foi
deposto, e dissolvida a República.
Carlos
Drummond de Andrade, in Contos plausíveis
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