As
flores estavam inquietas porque o arquiteto-paisagista havia
projetado uma flor diferente de todas as existentes. O projeto fora
encaminhado à comissão de notáveis, que deu parecer sugerindo a
adoção da nova flor como a primeira do país e seu símbolo
oficial.
“Com
uma flor diferente de nós todas e erigida em marca nacional —
murmuravam a um só tempo os crisântemos, as dálias, os cravos e
muitas outras espécies, inclusive a flor de fedegoso, que pelo nome
não era muito apreciada — institui-se discriminação no reino
vegetal. Além do que, flor sintética não é flor que se cheire.”
A
rosa não quis opinar, porque ainda conserva ilusões de rainha. Uma
deputação de flores procurou o arquiteto-paisagista, que se recusou
a recebê-la, mandando dizer que estava muito ocupado. Seguiu-se a
greve floral durante 45 dias, em que ninguém mandava flores ou tinha
condições de colhê-las, pois todas passaram a ter espinhos, e
algumas, cheiro de enxofre.
Mesmo
assim, a flor de proveta foi institucionalizada, e muitas variedades,
como a cinerária, o lírio-amarelo e o jacinto, que antes formavam
no coro das reclamantes, levaram-lhe cumprimentos no dia de sua
glorificação. Os espinhos e o mau odor desapareceram, e até a rosa
lhe mandou telegrama de parabéns e votos de eterno florescimento.
Carlos
Drummond de Andrade, in Contos plausíveis
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