Quando
eu tinha dezesseis, dezessete anos, evitava qualquer menção de
local, qualquer laivo bairrista em meus contos, para que estes
pudessem ser lidos sem dificuldade em traduções francesas. Eis aí
como eram os adolescentes do meu tempo: viviam em Paris... Enquanto
isto, no interior do meu Estado, Simões Lopes Neto escrevia em
português, ou antes em brasileiro, ou melhor ainda em linguagem
guasca, os “Contos gauchescos” e as “Lendas do Sul” — belas
histórias tão tipicamente nossas, porém de gabarito universal. E
desconfio até que nas “Lendas”, pelo verismo dos pormenores,
tenha sido ele, nas três Américas, o verdadeiro precursor do
realismo fantástico.
Mário
Quintana, in A vaca e o hipogrifo
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