domingo, 18 de agosto de 2019

Coisas nossas

Quando eu tinha dezesseis, dezessete anos, evitava qualquer menção de local, qualquer laivo bairrista em meus contos, para que estes pudessem ser lidos sem dificuldade em traduções francesas. Eis aí como eram os adolescentes do meu tempo: viviam em Paris... Enquanto isto, no interior do meu Estado, Simões Lopes Neto escrevia em português, ou antes em brasileiro, ou melhor ainda em linguagem guasca, os “Contos gauchescos” e as “Lendas do Sul” — belas histórias tão tipicamente nossas, porém de gabarito universal. E desconfio até que nas “Lendas”, pelo verismo dos pormenores, tenha sido ele, nas três Américas, o verdadeiro precursor do realismo fantástico.
Mário Quintana, in A vaca e o hipogrifo

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