De onde viemos? O que somos? Para onde vamos? (1897), de Paul Gauguin
A
composição de Gauguin De Onde Viemos? O que Somos? Para Onde
Vamos? trata-se de sua maior pintura, com quase 4 metros de base,
muitas vezes tida como sua obra-prima. Ele a realizou quando passava
por um momento de grande angústia, tendo inclusive pensado em se
matar em razão das dificuldades pelas quais passava, sem dinheiro
até para comprar seu material de pintura, sem saúde e pela falta de
reconhecimento de seu trabalho. Mas, antes de dar fim a sua vida,
queria pintar um “grande quadro”, como relatou ao seu amigo
Daniel Monfreid. A obra foi concluída em um mês, tendo o pintor
trabalhado sem praticamente parar, durante esse período. Gauguin
inspirou-se no Taiti para compor a sua obra.
No fundo da composição existe a
predominância dos tons verdes. Sobre eles o artista espalhou vários
personagens nativos. Alguns deles apresentam-se nus, outros seminus e
alguns vestidos de corpo inteiro. A vegetação é pintada com fortes
tons azuis e verdes, enquanto as figuras humanas são coloridas com
cores claras. As árvores, com suas formas sinuosas e as figuras
sólidas, compõem o paraíso tropical tão desejado pelo pintor, num
misto de realidade e imaginação.
Um bebê dorme no chão, tendo a seu lado
três jovens que descansam. Seria a representação da vida simples e
sem preocupações do paraíso. No centro da composição, um jovem
de corpo bem proporcionado e ereto retira uma fruta de uma árvore. O
amarelo brilhante de seu corpo contrasta-se com os verdes e azuis do
fundo da tela. Talvez o pintor tenha feito aqui uma alusão ao Jardim
do Éden. As duas mulheres ao fundo, com o corpo todo coberto,
representam a sabedoria.
A senhora idosa, com sua pele escura,
destoa da vivacidade da mulher jovem a seu lado. Na sombra, ela
parece estar olhando para o passado, enquanto aguarda o fim de
seus dias na Terra. A ave a seu lado pode representar o desconhecido
que a aguarda após a morte. E, no primeiro plano, na parte esquerda
da composição, uma garota come uma fruta, enquanto dois gatinhos
brincam a seu lado. Assim como o rapaz colhendo a fruta, esta cena
retrata a vida cotidiana.
A divindade presente na parte esquerda do
quadro, toda em azul, simboliza o mundo do além. Ela traz os braços
para cima e relembra as crenças primitivas, sendo tida por muitos
como a deusa polinésia Hina que, além de representar a Mãe Terra,
simboliza também a morte e a ressurreição.
O ciclo da vida é visto na pintura da
direita para a esquerda, fugindo à habitualidade, pois está de
acordo com a convenção oriental de leitura, iniciada da direita
para a esquerda. O bebê e a anciã encontram-se nos dois extremos da
tela, assim como acontece na linha da vida. E, como se pode deduzir
através do título da obra que se encontra na margem superior
esquerda da tela, escrito em francês, as figuras estão dispostas de
forma a representarem o ciclo da vida:
- o bebê dormindo (o início);
- o jovem colhendo uma fruta (o meio);
- a senhora idosa perto de uma ave (o fim).
No
diagrama de Gauguin o quadro está assim explicado:
- à direita (De onde Viemos) – as mulheres, as crianças, o cachorro e os símbolos da primavera representam o início da vida (De onde viemos);
- no centro (Que Somos) – o homem se pergunta sobre o sentido da existência e procura alcançar o fruto da árvore do conhecimento;
- à esquerda (Para aonde Vamos) – uma velha próxima da morte simboliza o final da vida. O pássaro é um aviso sobre a futilidade das palavras;
- as duas figuras perto da árvore da sabedoria, envoltas em vestes escuras, simbolizam a tristeza trazida pelo próprio conhecimento;
- os seres simples entregam-se à alegria de viver, numa natureza virgem que poderia ser um paraíso na acepção humana.
Curiosidade
Passando por um período precário, sem
dinheiro, o pintor usou um tecido barato de saco como tela para sua
composição. Nela também estão presentes elementos de outros
quadros do pintor que a considera como a sua obra-prima, ou seja, uma
síntese de suas pinturas e sua visão do mundo. Após a sua
conclusão, Gauguin fez uma tentativa frustrada de suicídio, ao
tomar arsênico. Vomitou e foi levado para o hospital, onde conseguiu
se recuperar, voltando à calma interior. Gauguin sempre pretendeu
mostrar que “a natureza não é um instrumento do homem, mas sua
parceira”.
Fonte: virusdaarte.net
Nenhum comentário:
Postar um comentário