segunda-feira, 3 de junho de 2019

A obra-prima de Gauguin

De onde viemos? O que somos? Para onde vamos? (1897), de  Paul Gauguin

A composição de Gauguin De Onde Viemos? O que Somos? Para Onde Vamos? trata-se de sua maior pintura, com quase 4 metros de base, muitas vezes tida como sua obra-prima. Ele a realizou quando passava por um momento de grande angústia, tendo inclusive pensado em se matar em razão das dificuldades pelas quais passava, sem dinheiro até para comprar seu material de pintura, sem saúde e pela falta de reconhecimento de seu trabalho. Mas, antes de dar fim a sua vida, queria pintar um “grande quadro”, como relatou ao seu amigo Daniel Monfreid. A obra foi concluída em um mês, tendo o pintor trabalhado sem praticamente parar, durante esse período. Gauguin inspirou-se no Taiti para compor a sua obra.
No fundo da composição existe a predominância dos tons verdes. Sobre eles o artista espalhou vários personagens nativos. Alguns deles apresentam-se nus, outros seminus e alguns vestidos de corpo inteiro. A vegetação é pintada com fortes tons azuis e verdes, enquanto as figuras humanas são coloridas com cores claras. As árvores, com suas formas sinuosas e as figuras sólidas, compõem o paraíso tropical tão desejado pelo pintor, num misto de realidade e imaginação.
Um bebê dorme no chão, tendo a seu lado três jovens que descansam. Seria a representação da vida simples e sem preocupações do paraíso. No centro da composição, um jovem de corpo bem proporcionado e ereto retira uma fruta de uma árvore. O amarelo brilhante de seu corpo contrasta-se com os verdes e azuis do fundo da tela. Talvez o pintor tenha feito aqui uma alusão ao Jardim do Éden. As duas mulheres ao fundo, com o corpo todo coberto, representam a sabedoria.
A senhora idosa, com sua pele escura, destoa da vivacidade da mulher jovem a seu lado. Na sombra, ela parece estar olhando para o passado, enquanto  aguarda o fim de seus dias na Terra. A ave a seu lado pode representar o desconhecido que a aguarda após a morte. E, no primeiro plano, na parte esquerda da composição, uma garota come uma fruta, enquanto dois gatinhos brincam a seu lado. Assim como o rapaz colhendo a fruta, esta cena retrata a vida cotidiana.
A divindade presente na parte esquerda do quadro, toda em azul, simboliza o mundo do além. Ela traz os braços para cima e relembra as crenças primitivas, sendo tida por muitos como a deusa polinésia Hina que, além de representar a Mãe Terra, simboliza também a morte e a ressurreição.
O ciclo da vida é visto na pintura da direita para a esquerda, fugindo à habitualidade, pois está de acordo com a convenção oriental de leitura, iniciada da direita para a esquerda. O bebê e a anciã encontram-se nos dois extremos da tela, assim como acontece na linha da vida. E, como se pode deduzir através do título da obra que se encontra na margem superior esquerda da tela, escrito em francês, as figuras estão dispostas de forma a representarem o ciclo da vida:

  • o bebê dormindo (o início);
  • o jovem colhendo uma fruta (o meio);
  • a senhora idosa perto de uma ave (o fim).

No diagrama de Gauguin o quadro está assim explicado:

  • à direita (De onde Viemos) – as mulheres, as crianças, o cachorro e os símbolos da primavera representam o início da vida (De onde viemos);
  • no centro (Que Somos) – o homem se pergunta sobre o sentido da existência e procura alcançar o fruto da árvore do conhecimento;
  • à esquerda (Para aonde Vamos) – uma velha próxima da morte simboliza o final da vida. O pássaro é um aviso sobre a futilidade das palavras;
  • as duas figuras perto da árvore da sabedoria, envoltas em vestes escuras, simbolizam a tristeza trazida pelo próprio conhecimento;
  • os seres simples entregam-se à alegria de viver, numa natureza virgem que poderia ser um paraíso na acepção humana.

Curiosidade

Passando por um período precário, sem dinheiro, o pintor usou um tecido barato de saco como tela para sua composição. Nela também estão presentes elementos de outros quadros do pintor que a considera como a sua obra-prima, ou seja, uma síntese de suas pinturas e sua visão do mundo. Após a sua conclusão, Gauguin fez uma tentativa frustrada de suicídio, ao tomar arsênico. Vomitou e foi levado para o hospital, onde conseguiu se recuperar, voltando à calma interior. Gauguin sempre pretendeu mostrar que “a natureza não é um instrumento do homem, mas sua parceira”.
Fonte: virusdaarte.net

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