Arrumei
uma bela Fiat emprestada para nossa excursão, e no sábado às duas
horas fui buscar Martin, que me esperava em frente à sua casa. Logo
em seguida partimos. Era julho e fazia um calor terrível.
Queríamos
chegar a B... o mais cedo possível, mas parei o carro numa
cidadezinha onde avistamos dois jovens com calções de ginástica e
cabelos molhados. Perto, atrás das casas, havia um lago. Sentia
necessidade de me refrescar; Martin aceitou a ideia.
Vestimos
nossos calções de banho e mergulhamos. Eu teria chegado facilmente
ao outro lado do lago, mas Martin limitou-se a mergulhar, sacudir-se
e sair. Ao pisar de novo na margem, depois de atravessar o lago em
sentido inverso, encontrei-o perdido em profunda contemplação. Um
grupo de crianças brincava ruidosamente à beira da água, alguns
jovens da cidade jogavam bola um pouco mais longe, mas Martin
mantinha os olhos fixos no corpo vigoroso de uma jovem que estava a
uns quinze metros, de costas para nós. Ela contemplava, numa
imobilidade quase perfeita, as águas do lago.
— Olhe
— disse Martin.
— Estou
olhando.
— O
que você acha?
— O
que você quer que eu diga?
— Você
não sabe o que deveria dizer?
— Tenho
de esperar que ela se vire.
— Eu
não preciso esperar que ela se vire. O que ela mostra deste lado já
é mais do que suficiente.
— Está
certo! mas não temos tempo de fazer nada com ela.
— O
cerco — retrucou Martin —, o cerco!
Voltou-se
para um garoto que enfiava um calção de ginástica.
— Ei,
menino, por favor, você sabe o nome daquela moça? — Mostrou com o
dedo a moça que continuava na mesma posição, presa de estranha
apatia.
— Aquela?
— Sim,
aquela.
— Ela
não é daqui — respondeu o garoto.
Martin
dirigiu-se então a uma menina de uns doze anos que tomava banho de
sol perto de nós.
— Garota,
você sabe quem é aquela moça, aquela que está em pé perto da
água?
A
menina se levantou, obedecendo: — Aquela lá longe?
— É.
— É
Maria.
— Maria
o quê?
— Maria
Panek, de Puzdrany...
A
moça continuava à beira do lago, de costas para nós. Abaixava-se
para pegar sua touca de banho, e quando se levantou para colocá-la
nos cabelos Martin já estava de novo perto de mim: — É uma tal de
Maria Panek, de Puzdrany. Podemos ir embora!
Estava
completamente calmo, de novo tranquilo, e era visível que só
pensava em prosseguir viagem.
Milan
Kundera, in Risíveis Amores
Nenhum comentário:
Postar um comentário