segunda-feira, 13 de maio de 2019

Sobre Deus e outros minúsculos desvarios

Parece-me mais fácil ter fé em Deus, não obstante ser algo tão para além da nossa limitadíssima compreensão, do que na arrogante humanidade. Durante muitos anos, afirmei-me crente por pura preguiça. Ser-me-ia difícil explicar a Odete, a todos os outros, a minha descrença. Também não acreditava nos homens, mas isso as pessoas aceitam com facilidade. Compreendi ao longo dos últimos anos que, para acreditar em Deus, é forçoso confiar na humanidade. Não existe Deus sem humanidade.
Continuo a não acreditar, nem em Deus, nem na humanidade. Desde que Fantasma morreu cultuo o espírito d’Ele. Converso com Ele. Julgo que me escuta. Acredito nisso não por um esforço da imaginação, muito menos da inteligência, mas por empenho de uma outra faculdade, a que podemos chamar desrazão.
Converso comigo mesma?
Pode ser. Como, aliás, os santos, aqueles que se vangloriavam de conversar com Deus. Eu sou menos arrogante. Converso comigo, julgando conversar com a alma doce de um cão. Em todo o caso são conversas que me fazem bem.
José Eduardo Agualusa, in Teoria Geral do Esquecimento

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