segunda-feira, 15 de abril de 2019

Aquele Bêbado

Juro nunca mais beber — e fez o sinal da cruz com os indicadores. Acrescentou:
Álcool.
O mais, ele achou que podia beber. Bebia paisagens, músicas de Tom Jobim, versos de Mário Quintana. Tomou um pileque de Segall. Nos fins de semana, embebedava-se de Índia reclinada, de Celso Antônio.
Curou-se cem por cento do vício — comentavam os amigos.
Só ele sabia que andava mais bêbado que um gambá. Morreu de etilismo abstrato, no meio de uma carraspana de pôr de sol no Leblon, e seu féretro ostentava inúmeras coroas de ex-alcoólatras anônimos.
Carlos Drummond de Andrade, in Contos plausíveis

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