Espalham-se,
por fim, as sombras da noite.
O
sertanejo que de nada cuidou, que não ouviu as harmonias da tarde,
nem reparou nos esplendores do céu, que não viu a tristeza a pairar
sobre a terra, que de nada se arreceia, consubstanciado como está
com a solidão, para, relanceia os olhos ao derredor de si e, se no
lagar pressente alguma aguada, por má que seja, apeia-se, desencilha
o cavalo e reunindo logo uns gravetos bem secos, tira fogo do
isqueiro, mais por distração do que por necessidade.
Sente-se
deveras feliz. Nada lhe perturba a paz do espírito ou o bem-estar do
corpo. Nem sequer monologa, como qualquer homem acostumado a
conversar.
Raros
são os seus pensamentos: ou rememora as léguas que andou, ou
computa as que tem que vencer para chegar ao término da viagem.
No
dia seguinte, quando aos clarões da aurora acorda toda aquela
esplêndida natureza, recomeça ele a caminhar, como na véspera,
como sempre.
Nada
lhe parece mudado no firmamento: as nuvens de si para si são as
mesmas. Dá-lhe o Sol, quando muito, os pontos cardeais, e a terra só
lhe prende a atenção, quando algum sinal mais particular pode
servir-lhe de marco miliário na estrada que vai trilhando.
Visconde
de Taunay, in Inocência
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