Abriu
a torneira e entrou pelo cano. A princípio incomodava-o a estreiteza
do tubo. Depois se acostumou. E, com a água, foi seguindo. Andou
quilômetros. Aqui e ali ouvia barulhos familiares. Vez ou outra, um
desvio, era uma secção que terminava em torneira.
Vários
dias foi rodando, até que tudo se tornou monótono. O cano por
dentro não era interessante.
No
primeiro desvio, entrou. Vozes de mulher. Uma criança brincava.
Ficou na torneira, à espera que abrissem. Então percebeu que as
engrenagens giravam e caiu numa pia. À sua volta era um branco
imenso, uma água límpida. A cara da menina aparecia redonda e
grande, a olhá-lo interessada. Ela gritou:
“Mamãe,
tem um homem dentro da pia.”
Não
obteve resposta. Esperou, tudo quieto. A menina se cansou, abriu o
tampão e ele desceu pelo esgoto.
Ignácio
de Loyola Brandão, in Cadeiras proibidas
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