Sei
que choveu à noite. Em cada poça há um brilho azul e nítido.
Sobre
as telhas, os diabinhos invisíveis do vento escorregam num louco
tobogã.
Um
mesmo frêmito agita as roupas nos varais e os brincos nas orelhas...
Ó
ânsia aventureira! Parece que surgem bandeirolas
nos
dedos mágicos dos inspetores do tráfego...
Ah,
que vontade de desobedecer os sinais!
E
mesmo as escolas, onde agora está presa a meninada,
nunca
essas escolas rimaram tão bem com opressivas gaiolas...
Só
deveria haver escolas para meninos-poetas,
onde
cada um estudasse com todo o gosto e vontade
o
que traz na cabeça e não o que está escrito nos manuais.
E,
se duvidares muito, daqui a pouco sairão voando todas as
gravatas-borboletas,
enquanto
os seus donos atônitos aguardam o sinal verde nas esquinas.
Decerto
elas foram em busca de novos ares...
Mas
sossega, coração inquieto.
Não
vês? Sob o azul cada vez mais azul,
a
cidade lentamente está zarpando para um porto fantástico do
Oriente.
Mário
Quintana
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