segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Sobre a coisa em si e a aparência

Queixamo-nos de que vivemos na ignorância, incapazes de entender a relação entre todos os fatos da existência e, em particular, a relação entre nossa existência particular e o todo da existência. Não apenas a vida é curta, mas nosso conhecimento dela é drasticamente limitado. Não conseguimos olhar para trás e ver aquém do nosso nascimento ou olhar para a frente e ver além da morte. Nossa consciência é uma centelha passageira no meio da noite. É como se algum demônio maligno tivesse limitado nossa capacidade de saber, de modo a poder se regozijar com nossa inquietação.
Essa queixa, porém, é injustificada. Baseia-se na ideia errônea de que o mundo foi criado por um intelecto e, por conseguinte, existiu como imagem mental (ou representação) antes de se tornar real. De acordo com essa visão equivocada, o mundo derivou do conhecimento, sendo, dessa forma, acessível ao conhecimento — capaz de ser por ele analisado e totalmente compreendido. Mas a verdade é que aquilo de que nos queixamos não saber não é do conhecimento de ninguém ou de qualquer coisa e é, em si, absolutamente incognoscível. É, na realidade, inconcebível.
Schopenhauer, in Parerga et paralipomena

Nenhum comentário:

Postar um comentário