A
massa é extraordinariamente influenciável e crédula, é acrítica,
o improvável não existe para ela. Pensa em imagens que evocam umas
às outras associativamente, como no indivíduo em estado de livre
devaneio, e que não tem sua coincidência com a realidade medida por
uma instância razoável. Os sentimentos da massa são sempre muito
simples e muito exaltados. Ela não conhece dúvida nem incerteza.
Ela
vai prontamente a extremos; a suspeita exteriorizada se transforma de
imediato em certeza indiscutível, um germe de antipatia se torna um
ódio selvagem.
Inclinada
a todos os extremos, a massa também é excitada apenas por estímulos
desmedidos. Quem quiser influir sobre ela, não necessita medir
logicamente os argumentos; deve pintar com as imagens mais fortes,
exagerar e sempre repetir a mesma coisa.
Como
a massa não tem dúvidas quanto ao que é verdadeiro ou falso, e tem
consciência da sua enorme força, ela é, ao mesmo tempo,
intolerante e crente na autoridade. Ela respeita a força, e deixa-se
influenciar apenas moderadamente pela bondade, que para ela é uma
espécie de fraqueza. O que ela exige de seus heróis é fortaleza,
até mesmo violência. Quer ser dominada e oprimida, quer temer os
seus senhores. No fundo inteiramente conservadora, tem profunda
aversão a todos os progressos e inovações, e ilimitada reverência
pela tradição.
Sigmund
Freud,
in Psicologia das massas e análise do eu e outros textos
(1920-1923)
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