quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Enquanto isso...

Enquanto isso mudava a vida do Chile.
Clamoroso levantava-se o movimento popular chileno buscando entre os estudantes e os escritores um apoio maior. Por um lado, o grande líder da pequena burguesia, dinâmico e demagógico, Arturo Alessandri Palma, chegava à Presidência da República, não sem antes ter sacudido o país inteiro com sua oratória chamejante e ameaçadora. Apesar de sua extraordinária personalidade, uma vez no poder, converteu-se no clássico governante de nossa América; o setor dominante da oligarquia, que ele combateu, abriu a goela e tragou seus discursos revolucionários. O país continuou debatendo-se nos conflitos mais terríveis.
Ao mesmo tempo, um líder operário, Luis Emílio Recabarrén, com uma atividade prodigiosa organizava o proletariado, formava centrais sindicais, fundava nove ou dez jornais operários em toda a extensão do país. Uma avalanche de desemprego abalou as instituições. Eu escrevia semanalmente em Claridad. Os estudantes apoiávamos as reivindicações populares e éramos espancados pela polícia nas ruas de Santiago. A capital chegavam milhares de operários despedidos das minas de salitre e de cobre. As manifestações e a repressão correspondente paralisavam tragicamente a vida nacional.
Desde aquela época e com intermitências se infiltrou a política em minha poesia e em minha vida. Não era possível fechar-me em meus poemas, assim como não era possível tampouco fechar a porta ao amor, à vida, à alegria ou à tristeza em meu coração de jovem poeta.
Pablo Neruda, in Confesso que vivi

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