segunda-feira, 1 de outubro de 2018

O desempregado com filhos

Ele estava desempregado há muito tempo.
Tinha filhos e do trabalho restavam cadilhos.
E da fome sobravam rastilhos.
Disseram-lhe: só te oferecemos emprego se te cortarmos a mão.
Ele estava desempregado há mais tempo do que sabia, e mesmo se não queria, tinha filhos, aceitou.
Logo ali no cepo a deixou.
A mão, a mão, a mão.

Outra vez despedido de novo procurou emprego.
Só te oferecemos emprego se te cortarmos a mão,
aquela que te resta, a segunda mão.
Ele estava desempregado, tinha filhos, aceitou.
Porque o tempo lhe fugia entre os últimos dedos lhe fugia,
a mão, o tempo, a mão.
Porque o tempo lhe fugia, entre os últimos dedos lhe fugia,
a mão, o tempo, a mão.

E quando um dia lhe disseram; só tens emprego se te cortarmos a cabeça.
Ele estava desempregado há mais tempo do que podia, tinha filhos, aceitou, e
baixando a cabeça, aceitou.
Porque o tempo lhe fugia, entre os últimos dedos lhe fugia,
a mão, o tempo, a mão.
Gonçalo M. Tavares

Nenhum comentário:

Postar um comentário