Preparava-se Noé para plantar a primeira
vinha e eis que surge diante dele a figura negra e hedionda do
Demônio.
— Que pretendes plantar aí? —
perguntou o Demônio.
— Uma vinha! — informou Noé,
encarando com olhar sereno o seu insolente interrogante.
— E como são os frutos que esperas
colher, meu velho? — inquiriu friamente o Demo.
— Ora — explicou o Patriarca de bom
humor —, são frutos deliciosos, sempre doces. Os homens poderão
saboreá-los maduros e frescos ou secos e açucarados. Do caldo desse
fruto poderá ser fabricada uma bebida — o vinho — de
incomparável sabor. Essa bebida levará alegria e inspiração aos
corações dos mortais!
— Quero associar-me contigo no plantio
dessa vinha! — propôs o Demônio com certo acinte na voz.
— Muito bem — concordou Noé. —
Trabalhemos juntos. Ficarás, desde já, encarregado de regar a
terra.
E o Demônio, no desejo de agir pela
maldade, regou a terra com o sangue de quatro animais tirados da
Arca: o cordeiro, o leão, o porco e o macaco.
Em consequência desse capricho
extravagante do Maligno, aquele que se entrega ao vício degradante
da embriaguez recorda, forçosamente, um dos quatro animais. Bem
infelizes os que se deixam dominar pelo álcool! Tornam-se alguns
sonolentos e inermes como um cordeiro; mostram-se outros exaltados e
brutais como o leão; muitos, sob a ação perturbadora da bebida que
os envenena, ficam estúpidos como um porco. E há, finalmente,
aqueles que, depois dos primeiros goles, fazem trejeitos, dizem
tolices e saracoteiam como macacos.
Malba Tahan, in Lendas do bom
Rabi
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