A economia moderna
cresce graças à nossa confiança no futuro e à disposição dos
capitalistas para reinvestir seus lucros na produção. Mas isso não
é suficiente. O crescimento econômico também requer energia e
matérias-primas, e essas são finitas. Quando e se acabarem, todo o
sistema irá desmoronar.
No entanto, as
evidências fornecidas pelo passado são que eles só são finitos em
teoria. Contrariando as expectativas, embora o uso de energia e
matérias-primas por parte da humanidade tenha crescido nos últimos
séculos, a quantidade disponível para nossa exploração de fato
aumentou. Sempre que a escassez de um ou de outro ameaçou
desacelerar o crescimento econômico, choveram investimentos em
pesquisa científica e em pesquisa tecnológica. Essas
invariavelmente produziram não só maneiras mais eficazes de
explorar os recursos existentes como também tipos completamente
novos de energia e materiais.
Considere a
indústria de veículos. Nos últimos 300 anos, a humanidade fabricou
bilhões de veículos – de carroças e carrinhos de mão a trens,
carros, jatos supersônicos e naves espaciais. Seria de se esperar
que tal esforço imenso exaurisse as fontes de energia e as
matérias-primas disponíveis para a produção de veículos e que
hoje estivéssemos raspando o fundo do barril. Mas aconteceu o
oposto. Enquanto, em 1700, a indústria de veículos global dependia
quase exclusivamente de madeira e de ferro, hoje tem à sua
disposição uma abundância de materiais recém-descobertos, como
plástico, borracha, alumínio e titânio, nenhum dos quais nossos
ancestrais sequer conheciam. Enquanto, em 1700, as carroças eram
construídas principalmente por meio da força física de
carpinteiros e ferreiros, hoje as máquinas nas fábricas da Toyota e
da Boeing são alimentadas por motores de combustão de petróleo e
usinas de energia nuclear. Uma revolução similar ocorreu em quase
todos os outros setores da indústria. Podemos chamar isso de
Revolução Industrial.
Durante milênios
antes da Revolução Industrial, os humanos já sabiam como usar uma
grande variedade de fontes de energia. Eles queimavam madeira a fim
de derreter ferro, aquecer casas e assar bolos. Navios a vela usavam
a energia eólica para se mover, e moinhos d’água capturavam o
curso de rios para moer grãos. Mas todas essas opções tinham
problemas e limites claros. Não havia árvores disponíveis em toda
parte, o vento nem sempre soprava quando era necessário, e a força
da água só era útil para quem morava perto de um rio.
Um problema ainda
maior é que as pessoas não sabiam como converter um tipo de energia
em outro. Elas podiam usar o movimento do vento e da água para mover
navios e moinhos de pedra, mas não para aquecer água ou derreter
ferro. Inversamente, elas não podiam usar a energia produzida pela
queima de madeira para fazer um moinho de pedra se mover. Os humanos
só tinham uma máquina capaz de realizar tais truques de conversão
de energia: o corpo. No processo natural do metabolismo, o corpo dos
humanos e de outros animais queima combustíveis orgânicos
conhecidos como alimentos e converte a energia liberada em movimento
muscular. Homens, mulheres e animais podiam consumir grãos e carne,
queimar seus carboidratos e gorduras e usar a energia para puxar uma
carroça ou um arado.
Uma vez que os
corpos humano e animal eram o único dispositivo de conversão de
energia disponível, a energia muscular era essencial para quase
todas as atividades humanas. Músculos humanos construíam carroças
e casas, músculos de bois aravam campos e músculos de cavalos
transportavam alimentos. A energia que alimentava essas máquinas
musculares orgânicas vinham de uma única fonte: as plantas. Essas,
por sua vez, obtinham energia do Sol. No processo de fotossíntese,
capturavam energia solar e armazenavam-na em compostos orgânicos.
Quase tudo que as pessoas fizeram ao longo da história foi
abastecido pela energia solar capturada pelas plantas e convertida em
energia muscular.
Consequentemente, a
história humana foi dominada por dois ciclos principais: os ciclos
de crescimento das plantas e os ciclos alternados de energia solar
(dia e noite, verão e inverno). Quando a luz do Sol era escassa e
quando os campos de trigo continuavam verdes, os humanos tinham pouca
energia. Os celeiros ficavam vazios, os cobradores de impostos
ficavam ociosos, os soldados tinham dificuldade para se locomover e
lutar, e os reis tendiam a manter a paz. Quando o Sol brilhava e o
trigo amadurecia, os camponeses colhiam as sementes e enchiam os
celeiros. Os cobradores de impostos corriam para garantir sua parte.
Os soldados retesavam os músculos e afiavam as espadas. Os reis
convocavam conselhos e planejavam as campanhas seguintes. Todos eram
abastecidos pela energia solar – capturada e armazenada na forma de
trigo, arroz e batata.
Yuval Noah
Harari, in Sapiens: uma breve história da humanidade
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