A cada jogo do Nacional, a torcida lembra aos jogadores de hoje: há que se jogar pelo sangue de Abdón.
Abdón Porte defendeu a camisa do
Nacional do Uruguai durante mais de duzentas partidas, ao longo de
quatro anos, sempre aplaudido, às vezes ovacionado, até que sua boa
estrela apagou-se.
Então foi tirado da equipe titular.
Esperou, pediu para voltar, voltou. Mas não tinha jeito, a má fase
continuava, as pessoas o vaiavam: na defesa, até as tartarugas
conseguiam fugir dele; no ataque, não faturava uma.
No final do verão de 1918, no estádio
do Nacional, Abdón Porte se matou. À meia-noite, com um tiro, no
centro do campo onde tinha sido querido. Todas as luzes estavam
apagadas. Ninguém escutou o tiro.
Foi encontrado ao amanhecer. Numa mão
tinha o revólver e na outra, uma carta.
Eduardo Galeano,
in Futebol ao sol e à sombra
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