domingo, 27 de maio de 2018

Sexo, sexo, sexo

Sexo, sexo, sexo. Todo mundo só fala em sexo. Entreouçamos:
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Merlusa Cavalcante, socialaite. “Acho que fui uma adolescente normal. Minhas fantasias sexuais eram com estrelas do cinema. Lembro que as paredes do meu quarto eram cobertas de fotografias de atores e eu me imaginava transando com todos eles... Rin Tin Tin, King Kong, o cavalo do Roy Rogers...”
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Diva Gar, oceanógrafa. “Minha primeira transa foi num Volkswagen. Começou no banco de trás. Quer dizer, meu namorado foi pro banco de trás e eu fiquei metade no banco da frente e metade no banco de trás, sabe como é? Aí ele sugeriu que eu botasse uma perna pela janela e dobrasse a outra por baixo do banco da frente, no lado direito, enquanto ele tentava vir por cima do banco do lado esquerdo, aí eu comecei a dizer ‘Ai, ai’, e ele disse ‘Mas eu ainda não fiz nada’, e eu disse ‘Não, é que meu ombro ficou preso embaixo do freio de mão’. Aí ele disse pra eu recolher a perna que estava pra fora, e eu recolhi, mas fiquei com o joelho preso no volante e apoiei o cotovelo onde não devia e o meu namorado, coitado, deu um grito de dor. Aí eu pulei pra trás e bati com a cabeça no parabrisa e ele saiu correndo pra chamar uma ambulância. Aí veio a ambulância e ele foi comigo para o hospital na parte de trás e aí, sim, deu pra transar legal porque tinha bastante espaço e até uma cama.”
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Miro Masaferro, corretor. “Eu e minha esposa temos relações sexuais três vezes por semana, às terças, quintas e sábados. Terças e quintas das dez às dez e vinte e sábados das onze às onze e quarenta, com um intervalo para gargarejo. Religiosamente. É uma rotina que mantemos há vários anos e que não pretendemos mudar, apesar dos protestos que ouvimos quando, por exemplo, estamos jantando num restaurante e eu digo ‘Querida, são dez horas’ e vamos para baixo da mesa. Eu acredito que o segredo para uma vida sexual feliz é o mesmo que para a saúde intestinal: a regularidade. O importante é nunca falhar. Não sei como vai ser hoje. Vamos estar num velório...”
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Toca Tamborim, estilista. “Eu acho sexo uma coisa muito natural que acontece entre seis ou sete pessoas com apetites normais, um pouco de creme chantilly e um desentupidor de pia. Qual é o problema? As pessoas fazem um mistério. Ah, porque calda de chocolate suja a cama, ou o liquidificador e o vibrador juntos podem dar curto-circuito, e mais isso e mais aquilo. Qual é o problema, gente? Não foi Deus que nos botou no mundo com nossos corpos, e os arreios, e as ligas pretas? Pode haver coisa mais natural do que gel íntimo sabor framboesa? Poxa!”
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Dico Tomia, almoxarife e poeta. “Eu acho que o sexo tem que ser entre pessoas que se amam, ou se gostam, ou se respeitam, ou então não se conhecem, mas não têm nada mais para fazer entre as seis e as oito. Senão fica uma coisa mecânica, entende?”
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Dani Ficada, maquiadora e estudante de comunicação. “Ouvi dizer que um russo descobriu uma nova zona erógena. Parece que é a primeira nova descoberta na área desde que um inglês estabeleceu a exata localização do clitóris, no século dezenove. O russo ainda não revelou onde é a nova zona erógena, que levará o seu nome, Paprovski, mas especula-se que fica num local inesperado, até agora pouco explorado, do corpo humano. Eu vibrei com a notícia porque, francamente, não aguento mais sempre a mesma coisa, sempre a mesma coisa. Né não?”
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Beto Neira, mestre de obras: “Mulher, pra mim, é a que quica. Sabe cumé? Vai e volta. Mulher que fica no chão, pra mim, não tem moral. Estatelada não tem perdão, qual é. Tudo no sentido figurado, claro.”
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Dina Vio, dona de casa. “Se eu traio? Traio. Mas com classe. Nada às pressas, sem cerimônia, sem um tuchê. Sabe tuchê? Também, eu devo ser a última mulher no mundo que ainda pede vermute doce.”
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Malcon Tado, tabelião e tenor: “Eu acho que na cama vale tudo, menos legumes. Já perdi a namorada porque disse que o meu limite era o pepino. E nos dávamos bem, ela também é do coral da igreja...”
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Alma Naque, psicóloga: “Homem é como fruta. Você tem que pegá-los maduros, quando não estão mais verdes e ainda não começaram a apodrecer. Mas é um instante fugidio.”
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Rudi Mentar, analista de sistemas: “Língua na orelha. Decididamente, língua na orelha. O resto é para não iniciados.”
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Flora Medicinal, motorista. “Eu gostava muito mais do antigo método de reprodução humana. Lembra como era? Tiravam uma costela do homem, por cesariana, sem anestesia, e faziam outra pessoa. A mulher ficava só na vida mansa, não era nem com ela. Depois mudou tudo e hoje a mulher é quem sofre para dar cria. Afinal, não é? ‘Ele’ é homem. Funcionou o lobby. Classe unida taí...”
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Constância Nureto, advogada. “Tem homem que pensa que ‘educação sexual’ quer dizer bater antes de entrar.”
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Xavier Nougat, cirurgião-dentista. “O sexo é a coisa mais íntima que pode haver entre um homem e uma mulher, fora o casamento.”
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Mara Zul, nutricionista e vidente. “Usar o sexo só para a reprodução é como só sair com o carro para levar na oficina.”
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Manuela Bacal, bibliotecária. “Todo mundo conhece o sadismo, que é o sexo feito à maneira do Marquês de Sade, e o masoquismo, que é sexo como gostava o Barão de Masoc, mas pouca gente sabe que existem outras taras sexuais ligadas à literatura. Por exemplo: o Jorge Luis Borgismo, quando o homem só chega ao orgasmo sendo açoitado por uma estudante de linguística dentro de um labirinto. O Ernest Hemingwayismo, que é quando o homem só se satisfaz transando com uma mulher e atirando num leão, ou vice-versa, ao mesmo tempo.”
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Mulam Bento, arquivista. “Eu sou masoquista e minha mulher é sádica, mas o que estraga o nosso relacionamento é o ciúme. Quando eu chego em casa com uma mancha vermelha na camisa preciso jurar que não é sangue, é batom, senão ela tem um ataque histérico e, como castigo, não me bate.”
Luís Fernando Veríssimo, in Amor veríssimo

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