— Foi
neste quarto. Exatamente neste quarto.
— Você
está doido.
—
Aposto o que você quiser.
— O
quarto estaria o mesmo, tanto tempo depois?
—
Algumas coisas mudaram, mas olha a vista.
A vista é a mesma.
— Como
você sabe? A última coisa que queria fazer, naquele dia, era olhar
a vista.
— Acho
que eu estou me lembrando até do número. Era o 703. Tenho certeza.
— Tá
sonhando.
—
Lembra que você trouxe uma sacola com
pijama? Achei aquilo maravilhoso. Em vez de uma camisola, ou de nada,
um pijama de flanela azul.
— Que
no fim eu nem usei.
—
Tomamos banho juntos, lembra? Antes e
depois.
— Foi
a primeira vez que vi você nu. E quis me casar assim mesmo.
— Olha
o banheiro. Igualzinho. Era o 703!
— Que
ideia, vir para o mesmo hotel, tantos anos depois...
— E
acabar no mesmo quarto! O que você está fazendo?
—
Ligando pra casa. Pra ver se está tudo
em ordem.
— Não
vá dizer onde nós estamos.
— Vou.
Vou dizer “Olha, seu pai quis passar o Dia dos Namorados no mesmo
hotel em que dormimos juntos pela primeira vez”.
— Você
trouxe os meus remédios?
—
Trouxe. Estão na sacola, junto com os
meus. Aliás, na sacola só tem remédios.
Mais
tarde:
Ela:
— Você não vem pra cama?
Ele:
— Já vou. Estou olhando a vista.
Luís
Fernando Veríssimo, in Amor veríssimo
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