Velha
locução vulgar em Portugal e ainda viva no Brasil, valendo
inimizar-se, desajustar-se, afastar-se do convívio de alguém, estar
“de mau”.
D.
Francisco Manuel de Meio empregou-a: “Ando de candeyas às avessas
com a gente” – Visita das fontes. “Até com o próprio
João da Mena... estou de candeas às avessas” – Hospital das
letras. Testemunhos da segunda metade do século XVII.
Candeia,
candea, é o círio, vela, e não a candeia usual, de folha de
flandres, lamparina, pequena lâmpada portátil, de querosene,
sobrevivente nos sertões.
Castro
Lopes (Origem de anexins, 201) e João Ribeiro (Frases
feitas, I, 189) deram interpretações. Para o primeiro
originar-se-ia do latim Cum deis aversis, com os deuses
contrários. Para o segundo, trazer candeia às avessas valia
queimar as mãos.
As
soluções não parecem lógicas para a imagem do desavindo, distante
das amizades, “rompido”, desafeto.
No
processo da Excomunhão Maior, lida a bula papal qua quis
excluditur a communione fidelium, interdição pessoal do réu à
qualquer comunicação cristã, o Legado Pontifício apagava o grande
círio pascal, figurando a Fé, derribando-o por terra. Ficava a
candeia ao inverso da posição normal e litúrgica, então acesa e
na vertical. O excomungado estava na situação idêntica,
moral e fisicamente ao contrário de todos os fiéis. De candeia
às avessas.
Jean-Paul
Laurens expôs em 1875 L’Excomunication de Robert le Pieux
(Museu do Luxemburgo), fixando o trágico cerimonial.
Não
creio ser outra a origem da locução.
Luís
da Câmara Cascudo, in Coisas que o povo diz
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