— Dom
Pedro, voltei, porque não estou satisfeito comigo mesmo. Com prazer
vou continuar cuidando de seus assuntos.
Disse
isso sentado novamente no escritório de dom Pedro Páramo, onde
havia estado não fazia nem meia hora.
— Está
bem, Gerardo. Aí estão os papéis, onde você deixou.
— Eu
também queria... Os gastos... A viagem... Um adiantamento mínimo de
honorários... Algum extra, se o senhor houver por bem.
—
Quinhentos?
— Não
poderia ser um pouco, digamos, um pouquinho mais?
— Você
ficaria conformado com mil?
— E
se fossem cinco?
— Cinco
o quê? Cinco mil pesos? Não tenho. Você sabe muito bem que está
tudo investido. Terras, animais. Você sabe disso. Leva os mil. Não
acho que você precise de mais.
Ficou
meditando. A cabeça caída. Ouvia o tilintar dos pesos sobre a
escrivaninha onde Pedro Páramo contava o dinheiro. Lembrava-se de
dom Lucas, que sempre ficou devendo seus honorários. De dom Pedro,
que abriu conta nova. De seu filho Miguel: quanta dor de cabeça
aquele rapaz tinha dado!
Livrou-o
da cadeia pelo menos umas 15 vezes, se é que não foram mais. E o
assassinato que cometeu com aquele homem, como era mesmo o nome?,
Rentería, isso. O morto chamado Rentería, em cuja mão puseram uma
pistola. O jeito que Miguelzinho estava assustado, embora depois
caísse no riso. Só isso, quanto teria custado a dom Pedro se as
coisas tivessem ido até lá, até a lei? E a questão das violações,
nada? Quantas vezes ele teve que tirar do próprio bolso dinheiro
para que elas enterrassem o assunto: “Fique bem e em paz que você
vai ter um filhote branquelo!”, dizia a elas.
— Aqui
está, Gerardo. Cuida muito bem deles, porque não geram cria.
E
ele, que ainda estava em suas cismas, respondeu:
— Pois
é, os mortos também não — e acrescentou: — Desgraçadamente.
Juan
Rulfo, in Pedro Páramo
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