Voltemos
à feliz espécie dos loucos. Passada a vida alegremente, sem medo ou
pressentimento da morte, emigram diretamente para os Campos Elísios
e vão deleitar com as suas facécias as almas ociosas e pias.
Comparai agora ao destino do louco o de um sábio a vossa escolha.
Citai-me um modelo de sabedoria que tenha gasto a sua infância e a
juventude no estudo das ciências e que tenha perdido o mais belo
tempo da sua vida em vigílias, cuidados e trabalhos sem fim e que se
tenha privado, para o resto da sua vida, de todos os prazeres. Vereis
que foi sempre pobre, miserável, triste, tétrico, severo e duro
para consigo mesmo, insuportável e desagradável para com os outros,
pálido, magro, servil, envelhecido antes do tempo, calvo antes da
velhice, votado a uma morte prematura. Que importa, aliás, que
morra, se nunca chegou a viver! Tal é o belo retrato deste sábio.
Erasmo
de Roterdan,
in Elogio da loucura
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