Quando
a Amanda começou a frequentar o bar da turma, levada pelo Anselmo,
só notaram a sua beleza. Ela era linda. Olhos claros, nariz
perfeito... Aos poucos foram descobrindo suas outras virtudes.
Principalmente os homens.
— Além
de bonita, simpática.
— E
simples.
— Mas
não é burra.
— Nada.
Tem conteúdo.
— E
covinhas.
— O
quê? — Vocês não notaram? Duas covinhas. Quando ela sorri.
— E
que sorriso!
— Que
dentes!
— E
os cabelos?
— Ó,
Anselmo, de onde você descolou essa mulher?
O
Anselmo contou que a tinha conhecido na academia. Além de tudo, era
esportiva. Não, não sabia o que ela fazia. Pesquisa antropológica,
análise de sistemas, qualquer coisa assim. Não tinha os detalhes.
As
mulheres não estavam gostando de toda aquela atenção com a Amanda,
mas não podiam protestar. Porque os homens tinham razão. A Amanda
era fora do comum. E, segundo reconheceu a Michelle, a contragosto,
“querida”.
Mas
foi a Michelle quem notou pela primeira vez.
— Vocês
notaram que os cabelos dela se mexem com o vento?
— E
o que que tem isso? — perguntou o Marcão. — Os meus também se
mexem.
Mas
a Michelle completou:
— Mesmo
quando não tem vento...
— Tá
maluca.
—
Prestem atenção — disse a Michelle.
*
* *
Naquele
dia a Amanda chegou, beijou todo mundo, sentou-se, pediu uma
cocadáieti, e depois se surpreendeu: por que estavam todos olhando
para ela daquele jeito? Nada, nada. Todos disfarçaram. “É porque
tá todo mundo apaixonado”, brincou o Anselmo. Mas a Michelle
estava certa. Uma leve brisa batia no rosto da Amanda e fazia seus
cabelos esvoaçarem suavemente. Era como se ela estivesse de frente
para o mar, em vez de uma mesa de bar. E durante o resto da noite
Amanda não notou a movimentação da turma ao seu redor e,
sorrateiramente, ao redor do bar, tentando descobrir a origem daquela
brisa que ninguém mais sentia, a brisa que só esvoaçava os cabelos
dela. Não era corrente de ar. O bar não tinha ar-condicionado.
Pelas janelas não entrava vento nenhum. De onde vinha a leve brisa
que só aumentava a beleza de Amanda?
*
* *
— Vento
no rosto, não dá — decretou a Heleninha, quando a Amanda foi
embora. — Eu aguento tudo. As covinhas, tudo. Mas com vento
exclusivo no rosto não há competição. É covardia.
As
outras concordaram. Brisa permanente nos cabelos era demais. Mas de
onde vinha a brisa? Surgiram várias teses.
— É
truque. Ela tem um ventilador escondido em algum lugar.
— Onde?
— Sei
lá. Ou tem alguém que segue ela, com um ventilador.
Ou
então:
— É
mágica mesmo. Além de tudo, ela é mágica.
—
Bruxa, você quer dizer.
—
Mágica — insistiu o Marcão, com o
olhar perdido.
A
última palavra foi da Michelle.
— Está
bem que ela seja privilegiada. Mas brisa só no rosto dela, não!
*
* *
As
mulheres optaram por barrar a Amanda no grupo e ainda alertar o
Anselmo, pois ninguém sabia de que outras bruxarias ela era capaz.
Os homens discordaram com um voto em separado: a Amanda deveria
continuar no grupo. Afinal, era só uma leve brisa. Se um dia o vento
aumentasse, decidiriam o que fazer.
Luís
Fernando Veríssimo, in Amor Veríssimo
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