sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

A partir do barro

Vemos grandes estadistas e, em geral, todos aqueles que devem servir-se de muitas pessoas para a execução dos seus planos, comportarem-se ora de uma maneira, ora de outra: ou selecionam muito apurada e cuidadosamente as pessoas que convêm aos seus projetos e lhes deixam, depois, uma liberdade relativamente grande, porque sabem que a natureza desses indivíduos escolhidos os impele precisamente para onde eles próprios querem que eles vão; ou, então, escolhem mal, pegam mesmo no que têm à mão, mas formam a partir desse barro algo que serve para os seus fins. Este último gênero é o mais violento, também o que procura instrumentos mais submissos; o seu conhecimento dos homens é, habitualmente, muito mais escasso, o seu desprezo pelos homens é maior do que no caso dos espíritos mencionados em primeiro lugar, mas a máquina, que eles constroem, trabalha melhor, de maneira geral, que a máquina saída da oficina daqueles.
Friedrich Nietzsche, in Humano, demasiado humano

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