quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Qunado descobri sobre "aquilo"


Eu estava na quarta série quando descobri sobre aquilo. Eu era provavelmente o último a saber, porque continuava não falando com os outros. Um garoto se aproximou de mim enquanto eu vagava durante o recreio.
Você não sabe como aquilo acontece? – perguntou.
Aquilo o quê?
Foder.
O que é isso?
Sua mãe tem um buraco... – ele juntou o polegar e o indicador da mão direita e fez um círculo – e seu pai tem um pinto... – pegou o indicador esquerdo e começou a enfiá-lo para frente e para trás dentro do buraco. – Então o pinto do seu pai espirra um suco e às vezes sua mãe tem um bebê e às vezes não.
Deus faz os bebês – eu disse.
Assim como a merda – disse o garoto e se afastou.
Era difícil para mim acreditar. Quando o recreio ter minou, me sentei na sala de aula e fiquei pensando no assunto. Minha mãe tinha um buraco e meu pai tinha um pinto que espirrava suco. Como eles podiam ter coisas como essas e continuar caminhando como se tudo fosse normal, conversando sobre banalidades, e então fazer aquilo e não contar nada para ninguém? Sentia realmente vontade de vomitar quando encarava a ideia de ter começado a partir do suco do meu pai.
Naquela noite, após as luzes se apagarem, fiquei acordado na cama, escutando. Com certeza, comecei a ouvir sons. A cama deles começou a ranger. Podia ouvir o barulho das molas. Levantei-me e fui, na ponta dos pés, até junto à porta do quarto deles e fiquei escutando. A cama seguia produzindo ruídos. Então parou. Corri de volta pelo corredor para dentro do meu quarto. Ouvi minha mãe entrar no banheiro. Escutei a descarga e depois seus passos se afastando.
Que coisa terrível! Não importava que fizessem aquilo em segredo! E pensar que todo mundo fazia isso! Os professores, o diretor, todo mundo! Era algo realmente estúpido. Então pensei em fazê-lo com Lila Jane, e a estupidez que era evidente já não me pareceu tão evidente assim.
No dia seguinte, durante a aula, passei o tempo todo com isso na cabeça. Olhava para as garotinhas e me imaginava fazendo com elas. Faria com todas elas e teríamos bebês, eu encheria o mundo de caras como eu, grandes jogadores de beisebol, marcadores de home runs. Naquele dia, logo antes da aula terminar, a professora, sra. Westphal, disse:
Henry, você poderia ficar mais um pouco?
A sineta tocou, e as outras crianças foram embora. Fiquei sentado e esperei. A sra. Westphal corrigia uns papéis. Pensei: talvez ela queira fazer comigo. Me imaginei erguendo o vestido dela e olhando para o seu buraco.
Tudo bem, sra. Westphal, estou pronto.
Ela ergueu os olhos das folhas.
Está certo, Henry. Em primeiro lugar, apague todos os quadros-negros. Depois leve os apagadores até a rua e tire o pó deles.
Fiz o que me mandou, então voltei a sentar na minha classe. A sra. Westphal continuava lá, corrigindo os papéis. Ela estava com um vestido azul apertado, grandes argolas douradas nas orelhas, tinha um nariz pequeno e usava óculos sem armação. Esperei e esperei. Então, eu disse:
Sra. Westphal, por que a senhora me manteve aqui depois da aula?
Ergueu o rosto e me encarou. Seus olhos eram verdes e profundos.
Mantive-o até mais tarde porque às vezes você é mau.
Ah, é? – sorri.
A sra. Westphal me olhou. Tirou seus óculos e continuou me encarando. Suas pernas estavam ocultas pela mesa. Eu não podia ver seu vestido.
Você estava muito desatento hoje, Henry.
É?
E não fale comigo desse jeito. Você está se dirigindo a uma dama!
Oh, claro...
Não seja insolente comigo!
Como a senhora quiser.
Ela se levantou e saiu detrás de sua mesa. Caminhou por entre as classes e sentou-se sobre a mesa à minha frente. Tinha pernas maravilhosas, longas, cobertas por meias de seda. Sorriu para mim, esticou uma das mãos e tocou num dos meus pulsos.
Seus pais não lhe dão muito amor, não é verdade?
Não preciso desse tipo de coisa – respondi.
Henry, todos precisam ser amados.
Não preciso de nada.
Pobre garoto.
Ficou de pé, veio até minha classe e tomou devagar minha cabeça entre suas mãos. Curvou-se e me estreitou contra os seios. Estiquei-me e enlacei suas pernas.
Henry, você precisa parar de brigar com todo mundo! Queremos ajudá-lo.
Agarrei as pernas da sra. Westphal com mais força.
Tudo bem – eu disse –, vamos trepar!
O que você disse?
Eu disse vamos trepar!
Olhou-me por um longo tempo.
Henry, nunca vou dizer para ninguém o que você me disse, nem para o diretor, nem para seus pais, para ninguém. Mas eu nunca mais, nunca mais quero que você me diga isso outra vez, entende?
Entendo.
Tudo bem. Você pode ir para casa agora.
Levantei e caminhei em direção à porta. Quando a abri, a sra. Westphal disse:
Boa tarde, Henry.
Boa tarde, sra. Westphal.
Segui pela rua pensando no acontecido. Senti que ela estava a fim de trepar, mas tinha medo por eu ser jovem demais para ela, medo de que meus pais e o diretor pudessem descobrir. Tinha sido excitante ficar sozinho com ela na sala vazia. Essa coisa de trepar era bacana. Dava às pessoas mais coisas em que pensar.
Eu precisava cruzar uma grande avenida para chegar em casa. Peguei a faixa de pedestres. Subitamente, um carro veio para cima de mim. Não diminuiu a velocidade. Vinha selvagemente desgovernado. Tentei sair do caminho, mas o carro parecia me seguir. Vi os faróis, as rodas, o pára-choque. O carro me acertou e depois foi tudo escuridão…
Charles Bukowski, in Misto-quente

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