sábado, 25 de novembro de 2017

Os especialistas


Antes da partida, os comentaristas e os cronistas formulam suas perguntas desconcertantes:
Dispostos a ganhar?
E obtêm respostas assombrosas:
Faremos todo o possível para obter a vitória.
Depois, os locutores tomam a palavra. Os da televisão acompanham as imagens, mas sabem muito bem que não podem competir com elas. Os do rádio, ao contrário, não são recomendados para cardíacos: esses mestres do suspense correm mais que os jogadores e mais que a própria bola, e em ritmo de vertigem narram uma partida que pode não ter muita relação com o que se está olhando. Nessa catarata de palavras, passa roçando o travessão o disparo que se vê roçando o mais alto céu, e corre iminente perigo de gol a meta onde uma aranha tece sua teia, de trave a trave, enquanto o goleiro boceja.
Quando conclui a vibrante jornada no colosso de cimento, chega a vez dos comentaristas. Antes os comentaristas interromperam várias vezes a transmissão da partida, para indicar aos jogadores o que deviam fazer, mas eles não puderam escutá-los porque estavam ocupados em errar. Estes ideólogos da WM contra a MW, que é a mesma coisa mas ao contrário, usam uma linguagem onde a erudição científica oscila entre a propaganda bélica e o êxtase lírico. E falam sempre no plural, porque são muitos.
Eduardo Galeano, in Futebol ao sol e à sombra

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