Ele
não sabe quem sou,
de
onde venho,
o
que faço, o que tenho,
onde
quero chegar.
Conhece
só minha linguagem,
que
dispensa miçangas, paetês,
bugigangas
de brilho,
vidrilhos,
colchetes, ilhoses,
eternos
algozes da ideia,
que
a mantém longe da plateia,
numa
torre isolada.
Nada
sabe de mim e, no entanto,
hoje
é para ele que escrevo,
que
desenho meu canto em autorrelevo.
Somos
capazes da mesma lua,
do
mesmo pôr-de-mar,
quando
o sol vai prevaricar,
tonto
de estrelas;
somos
parceiros de acampar dentro de flores,
provar
dos seus licores,
sem
nem sequer comprometê-las.
A
esse meu par desconhecido
vale
a curiosa informação
de
que não tenho olhos azuis
(discutivelmente
verdes como prêmio de consolação),
não
sei nadar, nem falo alemão.
Um
dia ainda aprendo a cozinhar.
Só
se pode considerar um modo certo:
continuo
a escrever porque o preciso perto,
companheiros
de mundo até morrer.
Flora
Figueiredo
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