Mwadia
sentiu o conflito a mordiscar-lhe o peito: ela queria, mas temia. O
regresso a Vila Longe era sonho e pesadelo. Desejo de reencontrar os
seus, de regressar à velha casa de infância. Receio de que os
“seus” já não lhe pertencessem, e que a velha casa estivesse
morta.
Recordava-se
das últimas palavras de sua mãe, na distante tarde da despedida:
— Vai
de vez?
— Eu
hei-de voltar.
— Se
é para voltar, volte antes de partir.
Mwadia
era a última filha a sair do lar. Todas as filhas tinham tomado a
estrada e se desvaneceram na neblina. Nunca mais voltaram. A mãe
remoía tristezas, repisando as palavras:
— Pois
então, minha filha, você vai embora...
Demorava
os adeuses, queria que a despedida se arrastasse a vida inteira.
— Você
nasceu-me muito tarde, Muadita. Estou cansada, eu já não tenho
forças para mais um rasgão dentro de mim.
Mia
Couto, in O outro pé da sereia
Nenhum comentário:
Postar um comentário