Como
as arpilleras
chilenas, nascem de mão de mulher os diabinhos de barro da aldeia
mexicana de Ocumicho. Os diabinhos fazem amor, a dois ou em bando, e
assim vão à escola, pilotam motos e aviões, entram de penetras na
arca de Noé, se escondem entre os raios do sol amante da lua e se
metem, disfarçando-se de recém-nascidos, nos presépios de Natal.
Insinuam-se os diabinhos debaixo da mesa da Última Ceia, enquanto
Jesus Cristo, cravado na cruz, come peixes do lago de Pátzcuaro
junto a seus apóstolos índios. Comendo, Jesus Cristo ri de uma
orelha a outra, como se tivesse descoberto que este mundo pode ser
redimido pelo prazer mais que pela dor.
Em
casas sombrias, sem janelas, as alfaieiras de Ocumicho modelam estas
figuras luminosas. Fazem uma arte livre as mulheres atadas a filhos
incessantes, prisioneiras de maridos que se embebedam e as golpeiam.
Condenadas à submissão, destinadas à tristeza, elas acreditam cada
dia numa nova rebelião, uma alegria nova.
Eduardo
Galeano,
in Mulheres
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