quarta-feira, 20 de setembro de 2017

O corpo

Quando eu era jovem, a menor unidade do meu pensamento era o universo e a eternidade. Eu vivia no mundo dos deuses. Não havia percebido que meus deuses tinham pés de barro. Seus pés se esfarelaram, eles caíram e eu fiquei mais modesto. Troquei-os pelos heróis da política. Deixei os céus para os pardais e tornei-me um habitante do mundo. O marxismo era a grande religião. Ao envelhecer, dei-me conta de que também a política era muito grande para mim. Encolhi-me mais uma vez. Voltei ao meu corpo. É no corpo que vivo meu cotidiano. O corpo só conhece o presente.
Rubem Alves, in Ostra feliz não faz pérola

Nenhum comentário:

Postar um comentário