quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Atirador galante

Quando o carro atravessou o bosque, ele fê-lo parar perto de um tiro, dizendo que lhe seria agradável atirar algumas balas para matar o tempo. Matar esse monstro, não será a ocupação mais comum e mais legítima de cada um? Ofereceu galantemente a mão à companheira, deliciosa e execrável mulher, essa mulher misteriosa a quem ele deve tantos prazeres, tantos sofrimentos e talvez mesmo uma grande parte do seu gênio.
Várias balas passaram longe do ponto visado, indo uma alojar-se no teto. A encantadora criatura ria-se perdidamente, zombando da inabilidade do esposo. Então, este voltou-se bruscamente para ela e lhe disse: — Olhe para aquela boneca, lá longe, à direita, com o nariz para cima e um ar tão insolente. Pois bem, querida, imagine que é você! E, fechando os olhos, deu no gatilho. A boneca foi lindamente decapitada.
Depois, inclinando-se para a companheira, sua deliciosa e execrável mulher, sua Musa impiedosa e inevitável, beijou-lhe respeitosamente a mão e acrescentou: — Ah! Anjo querido! Como lhe agradeço minha habilidade!
Charles Baudelaire, in Pequenos poemas em prosa

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